abstrato

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Elpidio Dantas


O poeta impresso em folha
não tem rosto.
Tem falha,
tectonismo, aposto.
Cada linha num sentido
faz crescer a cordilheira.
E o poeta como um anjo,
pode ver a terra inteira.
No mirante imaginário,
o poeta agora é mudo.
Cria asas, contemplando,
salta em crase e acento agudo.
Voando por sobre as cabeças,
suas asas circunflexa.
E o poeta se espatifa
e ri a bessa.


Rogério Santos

sexta-feira, 29 de outubro de 2010

Grupo de Estudos da Localidade - ELO: O novo censo do Brasil

Grupo de Estudos da Localidade - ELO: O novo censo do Brasil: "Publicado no jornal do campus da USP de Ribeirão Preto, em 2009. O Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística – IBGE já iniciou os tra..."

quarta-feira, 24 de fevereiro de 2010

Conto - Descontador de histórias

Havia um homem conhecido como "Descontador de histórias". Tudo para ele era comum. Não existia magia, não existiam truques, não existiam ficções, nem mitos, enfim. A vida para ele era algo sem emoção nenhuma.
Até o dia em que lhe perguntaram como ele era capaz de descontar tantas histórias. Ele não tinha resposta... O silêncio lhe acusava de ignorante e, para não sair calado, disse que sempre foi assim.
Acreditaram como sempre, mas o silêncio voltou a lhe argumentar. Não existiam lembranças, não existiam datas especiais, não existiam momentos...

-- Por Renato Seabra.

sábado, 20 de fevereiro de 2010

Conto - Iscas

Tinha há muito tempo apenas alegrias... Passou a usá-las como iscas amarradas à linha da ganância e tentava fisgar alguns desapontamentos. Mas a linha costumava quebrar devido o peso da isca. Ele culpava a linha... Mas nunca soube explicar realmente.

-- Por Renato Seabra.

terça-feira, 9 de fevereiro de 2010

Filhos

Quando meu filho passou na faculdade, foi morar em Jaboticabal numa república chamada karkanela. Como toda mãe de recém-universitário estava exultante. Durante meses ele vinha para casa com uma plaquinha pendurada no pescoço ...`` asno´. Quando perguntava o que era aquilo, recebia uma resposta ...``coisa de bicho mãe´´.
Depois de muito tempo, não sei porque precisei ligar para ele; o fato foi que liguei .
-Bom dia, com quem falo???
-Bola de fogo!!
Achei que não tinha ouvido direito.....
- Por favor é da república karkanela???
-Sim
-Poderia falar com o Luiz Felipe???
Educadamente ouço um berro
- MUNDIÇA!!! QUEM É LUIZ FELIPE???
Fiquei estática
- Ah!!! é o asno. Ele num tá.... foi dormir na casa de uma mina!!
Agradeci e desliguei o telefone meio confusa. Meu filho era o asno que foi dormir com uma mina, morava com o bola de fogo e o mundiça num lugar chamado KARKA ..NELA.
Jamais tive coragem de conhecer sua república.
Fiquei apavorada com o que encontraria.

Malú Campos

quinta-feira, 4 de fevereiro de 2010

Conto - O dia que em que continuamos juntos...

Era um dia de viagem. Estávamos todos felizes dentro de nosso novo carro, na nova estrada, que foi arrumada pelo novo prefeito. Não que eu houvesse votado nele, nem nunca andado por esta estrada ou sequer houvesse gostado deste carro quando compramos, enfim... Estava muito feliz com a viagem em si, ainda que não havia escolhido o destino.

Minha mulher é muito mandona, talvez por isso meu pai a aprovou e me forçou a me casar com ela. Eu tinha apenas 21, era muito inocente. Na epoca eu havia sido hipnotizado por sua beleza. Queria que isso fosse romântico, mas ocorreu literalmente.

Ela que dirigia o carro. Ela me dizia "Você vai gostar de lá!" e eu dizia "Sim, sim... Se está falando."

Não dizia com muito carinho, parecia uma ordem. Na verdade eu nem sabia para onde estávamos indo, mas eu fingia saber e gostar da idéia. Assim como fingi ter votado no mesmo prefeito que ela e as nossas famílias toda votaram. Se soubessem...

Ela não gostava de surpresas. Nem fazer, nem receber. Mas eu me surpreendi quando chegamos ao local. Era a casa de seus pais. Finalmente eu conheceria os sogros que me foram evitados! Eu nunca os vi, nem quando ocorreu o casamento armado.

Entramos. Eu os imaginava como sombras demoníacas, tal como a filha deles, minha esposa, era antes de alguma coisa acontecer comigo que me fez não me importar com isso... Mas não, eles eram humanos e gentis.

Sentamos. Logo após um café, eles foram direto ao assunto. "Lamentamos sua vinda até aqui..." Em certo ponto eu também lamentava. "Mas nossa filha queria lhe dizer algo e precisava de nossa ajuda". Não falei nada. Eles se olharam, e soltaram o que eu menos esperava em toda essa vida "Nossa filha quer o divórcio." E ela disse meio triste "Me desculpe por traze-lo aqui sem você saber."

Mas que milagre! Após tantas vezes, nessa ela reconheceu que eu não sabia para onde eu estava indo quando me obrigou a entrar no carro! Fora quando eu ainda não era acostumado e ela me jogava pra dentro, me amarrando ao cinto de segurança, como meu pai fazia. Ó Deus... Aquele rosto tão triste e verdadeiro! O silêncio invadiu o ambiente, uma lágrima escorreu pelos seus olhos. Era uma lágrima suja, como quem nunca havia chorado antes! O silêncio ficou um tanto sinistro...

Aos poucos, a hipnose foi me abandonando e eu fui vendo sua verdadeira forma e... Nossa... Como meu pai me forçou a isso? Levando em conta que o hipnotizador era bom também... Enfim, vendo aquela cena triste e me lembrando que um dia fomos felizes, digo, do único dia em que fomos felizes, exatamente o dia antes de nos conhecermos, eu me levantei... Puxei coragem pra olhar para minha esposa. E mais um pouco pra continuar olhando... Ignorando tudo a minha volta, incluindo meus sogros que voltavam a virar sombras demoníacas, eu disse, ignorando também meu raciocínio, "Não!"... e aproveitei o fôlego e continuei "Continue comigo, por favor!"

Meus sogros estavam para me engolir vivo! Nem eram mais meus sogros! Já estavam onipresentes por toda a casa! Estava tudo tremendo! Ó Deus... "Eu te amo!" As sombras pararam e eu ouvi uma voz vinda do além... Era minha esposa... "Oh querido! Achei que estava infeliz ao meu lado! Que bom que você ainda me ama!".

Continuamos juntos, mas fiquei sabendo que o hipnotizador não estava mais vivo.


--- Por Renato Seabra

quarta-feira, 3 de fevereiro de 2010

Desejos de um leito solitário

Enquanto estava a me maravilhar neste mundo complexo, envolto por desejos carnais, me dei conta de que, por entre as persianas as quais a luz escassa transpassava reluzindo nas gotas de suor que ousavam a se aventurar por dentre as curvas daquele corpo tremulo, o qual dividia comigo sensações, extremas e inexplicaveis, havia um todo e complexo universo. Um grande conjunto indistinguiveis de sons, formavam uma unica melodia, a sinfonia metropolitana. Odiava aquela melodia, era a única coisa a ter me feito companhia por tantos invernos, nesta cidade frigida, a qual a tempos já havia dispostamente me acostumado a conviver em silencio, vivendo dia após dia a rotina do cotidiano.... Porem não neste momento, de forma inexplicável aquele som inicialmente repulsivo me passava um indescritível aconchego, de forma elegante envolvendo aquela orla de rangidos e gemidos ofegantes...

Sentia seus lábios finos e delicados, afagarem minha alma a cada toque, seu fôlego pairava levemente abaixo de meu queixo

Pequenos fechos de luz iluminavam sua vivida silhueta, linda e formosa, a qual se curvava em um arco realizado a cada leve e minucioso toque.

Bicos, delicados, pequenos e rosados, saltavam sobre montes tenues e provocantes.

- Quero senti-los, morde-los, absorve-los... Desejos insaciáveis me acompanhavam a beira da demência!!!

Próximo a loucura me sentia como um animal, a selvageria estampava-se em cada movimento...

Ofegante sentia sua cabeça apoiada em meus ombros, sua exaltante fragrância preenchia o ambiente, com os braços entrelaçados em meu corpo nu, suas unhas rasgavam-me, os gemidos passaram a se tornar constantes e fortes.

De repente, uma explosao de prazer seguida de uma pacifica tregua, seu cabelo, longo e sedoso, cobria seus olhos exaustos, seu corpo debruçado descansava sobre o meu, era leve e aconchegante. Inconscientemente de minha boca nasceram breves sussurros:

- Por favor, não me deixes, não suportaria conviver com a solidão novamente...

Aquelas eram palavras as quais ela provavelmente não teria escutado, pois já estava a dormir.

Fiquei a observá-la por um breve momento, seu rosto exausto e inocente, uma pequena tira de cabelo presa ao canto de seus lábios...

Perguntei em silencio:

– Seria você um anjo?

Quando então, vagarosamente acabei por cair em um sono confortavel, confortavel por nao estar mais uma vez só, no leito de meus sonhos...

terça-feira, 2 de fevereiro de 2010

Os olhos de um mero voyer

As flores nascem e depois murcham...
As estrelas brilham, mas em algum dia se extinguem....
Esta terra, o sol, as galaxias e até mesmo o grande universo algum dia tambem serao destruidos...
Comparado a isto, a vida do homem nao é nada mais que um simples piscar de olhos... Um curto momento...
Neste pouco tempo as pessoas nascem, riem, choram... Lutam, sao feridas, sentem alegria, tristeza, amam alguém, odeiam alguém...
Tudo em um só momento...
A unica coisa que temos certeza nesta vida é a morte...
Ainda assim, por que existem tantos, aqueles que estao sempre a buscar algo maior, seja da maneira correta ou nao...
Sempre buscando status, luxo, reputaçao...
Qual a importancia disso tudo!?
Qual a importancia de suas vidas em relaçao à vastidao de todo o universo o qual convivemos?
Sonhos, desejos, ganancia... Promessas... Sao icones dos quais realmente valem a pena viver em funçao?
Isso tudo já nao possui a minima importancia...